sábado, 28 de junho de 2008

Samba e Amor


Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã
Escuto a correria da cidade, que arde
E apressa o dia de amanhã

De madrugada a gente ainda se ama
E a fábrica começa a buzinar
O trânsito contorna a nossa cama, reclama
Do nosso eterno espreguiçar

No colo da bem-vinda companheira
No corpo do bendito violão
Eu faço samba e amor a noite inteira
Não tenho a quem prestar satisfação

Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer
Escuto a correria da cidade, que alarde
Será que é tão difícil amanhecer

Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã

[letra e musica: Chico Buarque]

Minha Amada Imoral

Banksy
Canta pra mim
Aquela música que adoras
E ao meu ouvido confidencia os teus ais,
Teus segredos, cheiros,
Na impressão mais que digital
De meus dedos.
Tua dança da chuva pessoal.
Senta aqui perto,
Na minha frente.

Quero aprender teu idioma,
Falar tua língua sem erros,
Numa harmonia de Eros e Psiquê.
Quero te alimentar de certezas,
De malícia, de espertezas,
todas na bondade e safadeza.
Por que tu és imoral,
Tu transcendes as convenções,
E eu aceito a condição

[Imagem : Banksy]

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Da vontade alheia e da cumplicidade



Hoje acordei com desejo de massas, hoje tenho que comer uma massa. Só não quero espaguete, talharim, fusilli, penne. Nada dessa natureza, to com vontade de nhoque, pizza, lazanha. E falando em desejos, vontades e afins; tava pensando comigo sobre as vontades dos outros e lá vai farinha pra fornada.

Com o tempo a gente tende a pensar mais sobre o que nos acontece e os porquês de que acontece conosco e com o outro. Pensamos sobre por que mesmo estando a tanto tempo com alguém, esse alguém não parece saber nada sobre nós. A mais cabal demonstração, prova disto, é a quantidade de casamentos que se constituem nos cartórios e igrejas e que logo em seguida se desfazem; ou mesmo casamentos em que os conjugues mantem por muito tempo relacionamentos paralelos, valendo salientar que são baseados num formato tradicional, sustentado pela sociedade como o correto. Não é escusado fazer saber que não acredito nessas idéias. Não acho só que não se aplicam a mim, como também acredito ser elas o motivo, culpa, de boa parte dos problemas vividos na nossa sociedade. Serve apenas pra perpetuar um modelo que regula pelo controle de massas e pelo pendão do masculino. Alguém vai dizer: "Que viagem a dele"! Ai direi: Que bobagem a sua!

Acredito ser imprescindível o diálogo entre as pessoas.
Deveríamos fazer questão quando encontramos companheiros interessantes que nos deixam a vontade, ou que nos tem consideração de fato, em sentar e fazer um acordo que faça com que tudo seja às claras.
Que nada aconteça na cabeça sem ser dito.
É importante frisar que para que entendamos quem amamos, nos abramos sobre o que sentimos e pensamos, pois confessando-nos sobre nosso tesão, tensão, planos e dúvidas, fazemos de nosso companheiro cúmplice. De fato, para que isso aconteça eficientemente, há necessidade de haver acordado, aceito pelos dois. Tendo isso como linguagem do cotidiano, os medos e inseguranças vão se dissipar e problemas certamente encontrarão soluções. Os tesões, fantasias, vontades, dúvidas serão colocadas em pauta não só num momento estabelecido, mas também serão no dia-dia.

Falar sobre o tesão de seu dia é delicioso e faz com que sua relação fique cada vez mais forte, por que faz da vontade possível, da dúvida fato consumado, conhecido. Faz-se saber como o outro gosta.

Exercitem-se e excitem-se!

Eu assino embaixo! ^^

Leiam e sejam felizes: Fique Amiga Dela

Blonde Redhead - Melody

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Relacionamento Vegan, o que é isso?

Por que Antes só que mal acompanhado?
[Continuação de "Sobre os anseios e o mundo de ilusões dentro de cada seio"]

Sexo Vegetariano
Zé: -Você conhece aquela do vegetariano?
Ana: -Não! Qual é?
Z: -Levou a moça pro mato e comeu a moita!
A: - oO E há quem não goste de verDura! (pensando)

Quem já foi, ou é vegetariano, entende ou entenderá o que digo.
Amar à distância, é namorar ao estilo vegetariano.
Tenho dito e acredito que mesmo as pessoas que idealizam um relacionamento não físico e espiritual, não conseguem viver relacionamentos à distância. Infelizmente é assim.
Sinto em mim algo diferente, eu sei. Posso viver minhas histórias à distância por muito tempo sem tanta agonia e olha que sou altamente carnívoro, entenda bem, CAR-NÍ-VO-RO.
A presença física é fantástica, mas não é tudo. Sexo é bom, é o que há; o calor do corpo de quem estamos vivendo uma história é magia pura, mas será que não dá pra viver sem isso o tempo todo?

Quando há feedback em um relacionamento com os essenciais (verdade, liberdade, respeito, amor), há tranqüilidade. Tranqüilidade no sentido de paz interna, por que você é suprido do que realmente importa quando vivendo algo verdadeiramente profundo. Faço questão de frisar que não falo de tranqüilidade no sentido de não sentir ciumes, medo da traição, insegurança. Falo de outra coisa mesmo, tente distinguir, sei que pode. Vale pensar que há algo muito comum no ser humano e mais latente ainda nas mulheres, que é o medo da solidão. Diria que 4/5 delas funcionam nessa sintonia. Parece muito? E é! Mesmo as que já vivem um relacionamento estável por anos, temem o fim desse relacionamento. Até mesmo as casadas, temem, sentem medo de ficar sozinhas, de não encontrarem uma pessoa pra amar, alguém que as ame de verdade e isso é o que realmente é levado em consideração, ou deveria ser levado prioritariamente. Existem relacionamentos que sobrevivem bodas e bodas sob esse fantasma, na fantasia de que: um relacionamento por si já é em todas as circunstâncias fonte certa de felicidade e segurança.

Falava de sintonia, mas a verdade mesmo é que nesse dial só há estática e desarmonia. Do que adianta acreditar em algo que não acreditamos, que sabemos ser uma mentira. Mentira maior, pois é uma mentira contada para si, tendo pra mim que mentir é sempre mentir pra si. E tentar se enganar é o eclipse da vontade, da personalidade, do eu, da alma.

Mulheres que vivem relacionamentos assim, numa visão metafórica, são muito parecidas com as moças que passam pela clitoridectomia. Assim como aquelas moças da Africa, Oriente Médio e Sudeste Asiático, lhes é privado algo essencial, o poder de ser feliz completamente. Apesar do nome complicado, tudo é feito de maneira tão simplória que a maior parte das mulheres ficam estéreis e outras tantas morrem pela falta de higiene no trato. Parece algo distante da realidade apresentada, mas não é bem assim distante de uma mulher dentro de um relacionamento assim, privada de sua liberdade, de sua vontade, de seu prazer. Imagine só, ou faça um scan, uma ressonância magnética em sua vida e você vai entender que estar com alguém que não se gosta, e ou que não nos trata como esperamos é: conviver com quem não precisamos, viver uma rotina que não nos diz respeito, e como as moças supra-citadas, fazer amor sem prazer. Essas mulheres correm o risco de se tornarem amargas, depressivas, se anularem enquanto ser humano gradativamente. Ao contrário das mutiladas na carne, parem sem parar, na esperança de ter algum prazer na vida, ou perpetuar esse relacionamento; o que é sabido não trazer felicidade e segurança alguma, muito o contrário, só trás mais responsabilidades.

Por que aprender a ter relacionamentos vegan?
Simplesmente por entender que "nossa" cultura de relacionamentos não nos faz forte, não nos respeita, não nos dá a liberdade, não nos ensina isso, não fala a verdade. Sendo mais correto, essa cultura não nos diz respeito, não é nossa e ponto final. Tudo que nos foi ensinado precisa ser revisto, reeditado e só ai então, passado as novas gerações. Imagine milênios de imposições, extermínios, fogueiras, estupros, lavagens, alienações; amenizando assim nosso poder de crítica e nossa força de vontade, nosso discernimento, nossa vontade de mudança. aaaaaaaaah!
Precisamos aprender a amar e que é amor. Descartar toda essa babaquice "mitológica" e enxergar a realidade, pisar no chão. E isso não significa não amar, não se apaixonar, não querer ficar junto, não querer viver algo com alguém. Viver algo "vegetariano" é como uma escola pra entender tudo que falo.

E como diria DeRose: Ser vegetariano não é ser "macrô"!

Bom Apetite!

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Um quê


Longe de mim abriu-se
E aqui uma porta,
Simultaneamente adentraram-se
Olhos desavisados
Sem semblantes, nem intentos.
Que desvelando-se ao tempo
Face fez-se ao sentimento de surpresa.

Tais quais as presas de uma naja
Injetando fluido fatalmente certo,
Pausando o respirar e inflando inocente.
Ímã de um traçado de vida
Que na ponta dos dedos trás
Idéias e vontades que jamais
Foram tão harmônicos.

E ao recostar minha cabeça percebi
Que me faltou um travesseiro à cama.
Um quarto.
Falta não mais um pedaço,
Faltaria-me a matéria prima?
Talvez um desejo ou certa fonte de calor,
Tornados em minha cama?

Flauta sibilou a melodia
Que certamente me dizia:
Sai de tua toca e irradia tua paz
Para alguém que lhe apraz, lhe habita.
Dita teu destino e segue forte,
Que um quê de sorte cruzou-te
E faz disso teu caminho, teu esporte.

terça-feira, 17 de junho de 2008

O Outro Canto de Baile


Há mais ou menos 10 anos atrás, senti resistência em ler Nietzsche, sentia mesmo, assim como em Fiodor Dostoiévski ainda hoje tenho cautela; afinal de contas não é qualquer leitura, algo que saia pelo fiofó[expressão infame]. Nada mais natural que perceber que esta resistência por Nietzsche se dava por saber encontrar-se nele uma leitura um tanto mais profunda e desafiadora, provocadora e de certa forma impiedosa. Ler Nietzsche é desafiar-se neutro, aprender sobretudo a ser ouvinte. É acordar para certas visões e compreender, por leituras as vezes malcriadas do erudito que era, quais caminhos a nossa cultura camuflada de chapelzinho fez-nos, enquanto humanidade mesmo, trilhar. Ser humano além do bem e do mal deve mesmo ser algo além do terreno, por que por mais que não sejamos maniqueísta, acabamos por força de nossa cultura milenarmente castrante, julgando tudo sob uma ótica parcial e descartando nossas próprias idéias por nos inquirirmos inadvertidas vezes ao pendão da moral impregnada de interesses que não nos dizem respeito enquanto 'conjunto' que quer melhorar[ufa].
Recomendo Nietzsch àqueles que precisam daquele bofetão quase cruzado-de-esquerda-nocaute-técnico inicial, para que deixe de tanta platonisse e de tanto Aguastinho. Quem sabe... se não houvesse tanta aura em torno do legado nietzcheano, talvez tivéssemos bem menos Galaxiais do Queijo-do-Reino do Grão de Areia. E ouvir o créu seria como ir num circo medieval para ver freakshows; a nossa necessária curiosidade humana, por procurar compreender o que não conseguimos referência. Tzzzc tzzzc! Pega no tranco cérebro preguiçoso[tapa]. Quando falo isso lembro logo de um Sílvio Luiz e o seu emblemático "Tá lá o corpo estendido no chão", e de toda gente que não entende que quando alguém passa mal precisa respirar. "A humanidade é desumana" e o Renato Russo, que na verdade era brasileiro, acreditava que tem jeito. Eu sinceramente acredito que tem jeito pra poucos, e por isso mesmo temos que cantar nossas legiões, sejam novaiorquinas ou sertanejas, em meio a espigões de pedra ou espinhos de cactos.
Nietzsche era multifacetado enquanto criador, não só dando tapas como os que comentei, ele também tem seus lampejos poéticos e até mesmo musicais. Pensando que nem todo mundo conhece o legado, cito aqui parte/trecho de um texto do cabra que traçou a genealogia da moral. Eu particularmente gosto desse trecho do Assim Falava Zaratustra, e espero que se deliciem[ui].

Abraços e algo mais a quem for de algo mais.

Segue abaixo o texto:




“Acabo de te olhar nos olhos, vida; vi reluzir ouro nos teus olhos noturnos, e essa volutuosidade paralisou-me o coração: vi brilhar uma barca dourada que se submergia em águas noturnas, uma barca dourada que se submergia e reaparecia fazendo sinais!

Tu dirigias um olhar aos meus pés, doidos por dançar, um olhar acariciador, terno, risonho e interrogador,

Duas vezes apenas agitaste com as mãos as tuas castanholas, e já os pés me pulavam, ébrios.

Os calcanhares erguiam-se; os dedos escutavam para te compreender; não tem o dançarino os ouvidos nos dedos dos pés?

Saltei ao teu encontro; tu retrocedeste ao meu impulso, e até a mim serpeava a tua voadora e fugidia cabeleira.

Num pulo me afastei de ti e das tuas serpentes: já tu te erguias com os olhos cheios de desejos.

Com lânguidos olhares me mostras sendas tortuosas; por tortuosas sendas aprende astúcias o meu pé.

Receio-te quando te aproximas, amo-te quando estás longe; a tua fuga atrai-me; as tuas diligências detêm-me. Sofro; mas, por ti, que não sofreria eu?

Ó! tu, cuja frialdade incendeia, cujo ódio seduz, cuja fuga prende, cujos enganos comovem!

Quem te não odiará, grande carcereira, sedutora, esquadrinhadora e descobridora! Quem te não amará, inocente, impaciente, arrebatadora pecadora de olhos infantis!

Aonde me arrastas agora, indômito prodígio? E já me tornas a fugir, doce esquiva, doce ingrata!

Dançando sigo as tuas menores pisadas. Onde estás? Dá-me a mão! Ou um dedo sequer!

Há por aí cavernas e bosques; extraviar-nos-emos. Pára! Detém-te! Não vês revoarem corujas e morcegos?

Eh! lá, coruja! Morcego! Quereis brincar comigo? Onde estamos? Com os cães aprendestes a uivar e a rosnar.

Mostravas-me graciosamente os brandos dentes, e os teus malvados olhos asseteavam-me por entre as frisadas madeixas.

Que correria por montes e vales! Eu sou o caçador; queres tu ser o meu cão?

Agora, a meu lado! e depressa, invejável solitária! Acima agora! Ó! Ao voltar, caí.

Olha como estou aqui estendido! Olha, altaneira, como imploro o teu socorro! Quereria continuar contigo... por caminhos mais agradáveis! pelos caminhos do amor, através de esmaltados bosques! ou pelos que marginam o lago, onde nadam e saltam dourados peixes!

Estás cansada, agora? Ali em baixo há ovelhas e vespertinos arrebois. Não é tão bom adormecer ao som da flauta dos pastores?

Então, estás assim cansada? Vou-te levar lá; ao menos deixa pender os braços. E tens sede?... Poderia dar-te qualquer coisa... Mas a tua boca não quer beber.

Que maldita serpente esta! feiticeira fugidia, veloz e ágil. Aonde te meteste? Sinto na cara dois sinais da tua mão, dois sinais vermelhos!

Estou deveras farto de te seguir sempre como ingênuo cordeirinho! Feiticeira, até agora cantei para ti: agora, para mim deves tu... gritar!

Deves dançar e gritar ao compasso de meu látego!

Esquecê-lo-ia eu? Não!”


Para quem se interessar esta aqui "O Outro Canto de Baile" completo e um link para Livro todo (Assim Falava Zaratustra em PDF, ou ainda na web em html - de Friedrich Nietzsche)

segunda-feira, 16 de junho de 2008

O Sol Nascerá


A sorrir
Eu pretendo levar a vida
Pois chorando
Eu vi a mocidade
Perdida

Fim da tempestade
O sol nascerá
Fim desta saudade
Hei de ter outro alguém apara amar

A sorrir
Eu pretendo levar a vida
Pois chorando
Eu vi a mocidade
Perdida

[Música: Cartola / Elton Menezes]

Tive, Sim



Tive, sim
Outro grande amor antes do teu
Tive, sim
O que ela sonhava eram os meus sonhos e assim
Íamos vivendo em paz
Nosso lar, em nosso lar sempre houve alegria
Eu vivia tão contente
Como contente ao teu lado estou
Tive, sim
Mas comparar com o teu amor seria o fim
Eu vou calar
Pois não pretendo amor te magoar

[música: Cartola]

quinta-feira, 12 de junho de 2008

A paixão segundo Werther & Karl Moor



Quero ser teu alicerce,
Quero ser teu chão,
Quero ser tapa-sexo,
Quero ser o teu pulmão,
Quero servir pra ti travesseiro,
Quero ser cadeira, espelho,
Quero ser teu conselheiro,
Quero ser inteiro.

Quero esfacelar as estruturas,
Roubar teu chão na cara-dura,
Invadir teu ventre em nexo,
Tirar teu ar, inflar teu plexo,
Quero deitar meu peso sobre ti,
Ver cavalgares sobre mim,
Ouvir teus uivos, grunhidos, beijos,
Perpetuar em ti meu cheiro.

Puzzle



Mergulhei nos olhos sorridentes que me fitavam,
Escorrendo como lágrima pelo rosto,
Experimentando lábios, queixo e pescoço.

Me esboço nu em teu pensamento sem fosso,
Onde tuas mãos exploravam sedentas,
Sequiosas de meu furor disposto.

Tomado por ti, que tramas fantasiando minhas loucuras.
Me personificas teu brinquedo amoroso
De gosto horripilantemente poderoso,
À seduzir tua vontade, alma, carne e travessuras.

Enamorado de uma felicidade mulher,
Me torno parte de um quebra-cabeça maior
Que complementa a história dessa flor,
Que sabe tão bem quanto eu o que quer.

Amor

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Apologia do sentido


O sol encabulou de teu livre-arbítrio,
Fugiu doido, desvairado, querente.
Corado anoiteceu a câmara, alcova da gente.
Me mergulhava em teu colo, lírio, rio de licores.

Já não éramos um trio,
Apolo abandonava tal espio,
Enquanto eu perscrutava com meus dedos
As notas de tua pele.

Aveludada tez onde deslisei o rosto,
Vislumbrando mil sabores,
Respirando cheiros mornos,
Tua alma quente em cores.

Mesmo que não cores, mi cuore,
Corre em teu centro/hard-core/chacra, líquido.
Transporta em cada beijo acima e abaixo,
Sem percalços o prazer por todo espaço.

Passei a noite no teu corpo querente,
Tateando teus gostos,
Por preferir gestos,
Por adorar ser de teu teto.

Ontem à noite comi teu belo,
Bebi de tua boca encarnada sem adorno.
Vivi do ar de tua chama, entre os dentes,
Atando-te em mechas insanas de cabelo.

Cravei unhas em teu nome,
Ao compasso das ancas mensageiras de sabor e arte,
Tua entrega completa à fome em mim.
Expressão de livre realização ulterior.

Já escorres o suor da certeza
De amanhecermos ofegantes de felicidade.
Juntos, enquanto acorda a cidade,
Radiantes de saborear arte.

Já vem Apolo, dorme!

Durmo..............................................

domingo, 8 de junho de 2008

Alvorada íntima


Um horizonte
Iluminado em azul
Fez brilhar
O mangue molhado
Da manhã
Dos lábios.

Tamanha a intensidade,
Ofuscou o olhar nublado.
Fazendo das trilhas
Caminhos tão íntimos
Quanto os traços
Do semblante amado.

Eram tantos cantos e cânticos,
Que era inebriante o frenético farfalhar.
Onde o odor de alegria fixava, penetrante,
Espraiava,
se espelhava no ar
Do sorriso vítreo.

sábado, 7 de junho de 2008

Secret Face


Me iluminava a fronte
A idéia de encontrar,
Num sorriso abastado
De nobreza e singular,
Outra fonte de beleza
E magia cativante.

Existiria realmente
Tal semblante?

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Sobre os anseios e o mundo de ilusões dentro de cada seio



Choveu muito, não faço idéia de quantos milímetros choveu de ontem até agora, o que sei é que não me atrevi a por os pés na rua. Vocês não acham interessante como dias que te deixam de 'molho' te fazem bem mais introspectivo? E eu cá pensativo como em outros dias molhados, divagava sobre os assuntos que tocam a alma feminina e os que supostamente não tocam, tocariam. Questionava-me sobre os porquês de algumas atitudes tão recorrentes nas amigas, nas musas, companheiras e tantas desconhecidas que me foram relatadas, confidenciadas, as aventuras, histórias. Ficção, simulação ou não, o que sei é que são passiveis de no mínimo uma boa reflexão. Me acompanhem o raciocínio.

"Amo Bernardinho, sabe. Estamos juntos há 5 anos, ele sempre fora tão fofo, aaamo o Bernardinho. Meu sonho é casar com ele, ter filhos, ser feliz. Acho que isso é possível, ao contrario que todos dizem, acho que o amor pode ser eterno. Quando falo disso lembro logo de meus avós maternos que viveram juntos até os 87 anos, quando meu avô morreu de infarto. Esses se amavam, pode crer, e olha que nem se beijavam.
Mas voltando a minha relação com o Bernardinho,... veja só como são as coisas, sempre chego cheia de amor pra ele, mas ele sempre está ocupado, ou mesmo estará em breve. Ultimamente tem sido tão complicada nossa relação... depois de tanto tempo juntos... nossa história está diferente, entende?! Por que o Bernardinho mudou um pouco a maneira de me tratar, eu sinto... sinto certas vezes como se fosse esmagada por tais circunstâncias, ou no peito, como se dentro uma prensa para fazer azeite fosse impossibilitando minha capacidade de ama-lo, de amar... sei lá, talvez. Ele não me procura como antes.
Hoje anda tão maquinal, tão direto, tão sem interesse, sem procura pela mulher em mim, por meus interesses, por meu dia, por amor... e quando me procura o ventre,... procura como se numa troca fosse tudo explicado, me faz dois carinhos, choraminga como um bebe mimado e eu me entrego completa e irrestrita, como sempre. (...) Mas sabe, depois de tudo me sinto usada, abandonada... como se fosse uma casca de banana, ou ainda como diz uma amiga, como se estivesse numa relação como a do gaúcho e do boi, eu sendo o boi e ele o gaúcho, claro. 'Ele me alimenta até me ver pronta ao abate. Depois de abatida me põe no espeto, me esquenta, me assa com raridade, sempre tirando o espeto na véspera, me come mal passada e esquece de mim. Depois da fase das brasas já pensa no rebanho e no próximo boi, ou melhor, churrasco. E não se enganem que como todo churrasco, virá regado de muita cerveja e amigos'. Eu concordo em partes com essa minha amiga, mas acho que ela está exagerando.
O Bernardinho é um arquiteto tão sensível, adoro como ele dispõe os objetos nos ambientes. Mesmo não gostando de como ele ilumina. Acho sempre tão penumbra, escuro. Terça-Feira encontrei com ele e falei sobre irmos no Sábado ao teatro para ver uma peça da Elizabeth Savalla que tá o maior sucesso, ele comentou que estava com muito trabalho pra entregar e que ia ficar em casa durante o final de semana, e que seria sem chances sair. Então na Quarta voltei a convida-lo, como se não soubesse do que tinha me dito, só que dessa vez para ir ao show do Caveira, que vai acontecer no Centro de Convenções no Sábado. Ele não pensou muito se queria ir, assim que falei que tinha o ingresso ele me beijou sorridente e me deu um abraço. Acho que ele me ama. Cinco anos não são cinco semanas. Tenho certeza que ele leva isso em consideração. E mesmo sabendo que ele ficou com a Raquel na semana passada, sei que isso não significa, nem significará nada pra ele. Não vou deixar uma coisa tão pequena abalar uma relação tão forte quanto a nossa."
[Martinha Moraes, do Cabo Frio - RJ]


[imagem:as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tem nova chance sobre a terra - de Clarice Gonçalves]

[CONTINUA]

2/4 (dois por quatro)


Canto o que se firma
Asas em pós de pirlimpimpim
Num mundo mágico sem balão
Gramas douradas e flores pratas
Numa dança desritmada a vida se embala
Num passo sem dois-pra-cá, dois-pra-lá

Mergulho em confetes e purpurina
Procurando no fundo teu brilho
Teu lascivo som no espelho
Meu gosto por teu sol já em pino
Uma sensação me reveste
Por bailar-nos por entre essa noite
Pescando palavras do ventre
Que nunca serviram de açoite
Se aqui houvesse uma melodia
Faria tua boca um refrão
Pra ser ouvida até o sol nascer
Despindo-me
De ilusão

(poesia à "4" mãos de Ludmila Patriota e Adriano Sargaço)

DESCARADO



As máscaras na festa são personagens,
Mitos, fantasias, contos de fada.
Não as uso, descarto os grãos das vargens.
Expondo assim a fantasia
Sem pinturas,
Sem culpas,
Nada enfadada.

As vozes nas músicas são miragens
Sussurros, urros, ruídos.
As lacunas e frestas na mente são passagens
Visões, espectros, fantasmas.

A superfície, o externo, a expressão
Contra o que vem de dentro, sentimento, canção.
A minha pele sente tua palavra
Assim como toque, um sopro, uma vida;

Uma vontade contida num beijo em dados;
Uma superfície de gêiser, quente, vaporosa;
Um mundo de desejos percorrido por arados;
Rosto desprovido de face em intenção gostosa.

Chega-se às entranhas por veredas espumantes
Abre-se a porta do querer com chave de gestos
Penetra-se no sentimento com alpercatas de penas
Reside-se no vácuo do sentir com tato de brumas

Assim sem máscaras viajo.
Deslizando por tuas cadeias de dunas,
Suspirando o ar que inspiras
Nas imagens de tuas poesias puras.

Viajando entre brumas e afãs,
Entre Febo e Morfeu,
Entre luas e verões,
Despudorado tiro os botões.

Beijo as maçãs,
Tiro o batom,
Firmo a canção,
Seda e lã.

(poesia à "4" mãos de Ludmila Patriota e Adriano Sargaço em 19/03/08)

[imagem: Paul Outerbridge - Nude with mask and hat - c. 1936]

terça-feira, 3 de junho de 2008

Um dia de silêncio


Amar é se embebedar de vida,
Se entregar no caminho,
Fazer de um milênio
Um momento sosinho?
Um dia de silêncio!

Tic-tac... Tic-tac... Tic-tac... Tic-tac... Tic-tac.

Precipita-se translúcido
Na velocidade de meu pulso,
Como um avarento beijo,
Indiferente ao paulatino gotejo.

Segundos voam,
Horas passam,
Idéias vão.

Frase recorrente;
Alucinação:

Meu sangue jorrando em combustão!!!!!